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Mostrando postagens de junho, 2018

Entre a burrice e a vigarice Olavo de Carvalho

Entre a burrice e a vigarice Olavo de Carvalho Época, 31 de Março de 2001 Há um método infalível de tirar conclusões erradas – o método brasileiro de raciocinar Se você quer estragar definitivamente um cérebro, acostume-o desde pequeno a tomar os sentidos das palavras, estampados nos dicionários, como se fossem traduções diretas de coisas e fatos. Em seguida, quando ele montar um raciocínio com essas palavras, faça-o acreditar piamente que a conclusão se aplica aos fatos e a coisas correspondentes. Esse é o método infalível de ir parar longe da realidade. Após algumas décadas de experiência na leitura de jornais e livros brasileiros, posso assegurar que ele é praticamente o único método admitido nos debates públicos neste país. Querem um exemplo? A palavra “iluminismo” designa idéias de liberdade e razão, opostas ao dogmatismo, à fé cega e às tiranias. “Inquisição”, por sua vez, quer dizer um tribunal que mandava os heréticos para a fogueira. Logo – segundo o método acima referido

Lógica da canalhice Olavo de Carvalho

Lógica da canalhice Olavo de Carvalho O Globo, 31 de Março de 2001 Quando alguém me diz que o comunismo é coisa do passado, que advertir contra ele é açoitar um cavalo morto, tenho às vezes uma certa suspeita de estar conversando com um canalha. Não que o sujeito o seja necessariamente. Mas, a rigor, somente um canalha descontaria 1,2 bilhão de pessoas que ainda vivem sob a tirania comunista como uma quantidade negligenciável, um infinitesimal no infinito. Somente um canalha desprezaria como irrelevantes os 40 fuzilamentos mensais de mulheres chinesas (e seus respectivos médicos) que se recusam a praticar aborto. Somente um canalha se persuadiria de que, só porque meia dúzia de firmas americanas estão ganhando dinheiro em Pequim (como se já não tivessem faturado outro tanto na Rússia de Lenin), o comunismo se tornou inofensivo como um rinoceronte de pano. Somente um canalha fingiria ignorar que, após a dissolução da URSS, nenhum torcionário da KGB foi demitido, muito menos punido, e

Do mito à ideologia Olavo de Carvalho

Do mito à ideologia Olavo de Carvalho Jornal da Tarde, 29 de Março de 2001 A falta de santos, de místicos, de filósofos, num país de dimensões continentais e 500 anos de existência, já basta para fazer dele uma anomalia espiritual assustadora, provavelmente sem similar na História universal. Porém mais anormal ainda é que ninguém se preocupe com isso, que todos creiam dever constituir primeiro a sociedade ideal, com 200 milhões de cidadãos satisfeitos e rechonchudos, para depois, só depois, tratar de adquirir alguma consistência no plano do espírito. Esta pretensão insensata é talvez a maior manifestação de desprezo coletivo à “única coisa necessária” que já se observou na espécie humana. Não há, no repertório das possibilidades históricas conhecidas, exemplo de sociedade que lograsse encher todos os estômagos para só depois alimentar os corações e cérebros. Os povos mais primitivos, as comunidades mais rudimentares já mostravam saber que algum tipo de conhecimento metafísico pr

Frases e vidas Olavo de Carvalho

Frases e vidas Olavo de Carvalho Zero Hora, 25 de março de 2001 Abraham Lincoln, que de lenhador se fez presidente, teve ainda fôlego para se tornar, mediante o estudo dos clássicos, um dos maiores estilistas da língua inglesa. Theodore Roosevelt, no intervalo de lutas políticas e aventuras militares, escreveu ensaios literários que ainda hoje se lêem com proveito. Nada digo de Jefferson, intelectual dentre os mais notáveis do seu tempo, muito menos dos Adams, uma dinastia de eruditos. Saltando de continente, admito que devo a Sir Winston Churchill algumas das horas de leitura mais divertidas e estimulantes que já vivi, e da filosofia moral de Lorde Balfour só tenho a lamentar que autor tão bom escrevesse tão pouco. Na França ninguém chegou a presidente ou primeiro-ministro sem que uma digna folha de serviços literários lhe abrisse caminho. Não preciso citar gênios como Clemenceau ou de Gaulle: mesmo o humilde Georges Pompidou, em campanha, jamais deixava de fazer uma pausa para pro

Olavo de Carvalho - Ateísmo na Classe Cientifica

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Olavo de Carvalho - Maçonaria e a Igreja Católica

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Olavo de Carvalho - Tenho o Conhecimento

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Olavo de Carvalho - Contemplação

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Olavo de Carvalho Novo - Direito - Justiça : O Bem e o Mal

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Confronto de ideologias? Olavo de Carvalho

Confronto de ideologias? Olavo de Carvalho Época, 24 de março de 2001 Qualificar assim a luta entre capitalismo e socialismo é um vício de linguagem Se você quer avaliar a extensão do domínio hipnótico que os cacoetes marxistas ainda exercem sobre o sistema neuronal de pessoas que se supõem imunes a qualquer contaminação de marxismo, basta ver que estas, quando argumentam em favor do capitalismo, admitem colar na própria testa o rótulo de defensores de uma determinada “ideologia”. Uma ideologia é, por definição, um simulacro de teoria científica. É, segundo a correta expressão do próprio Marx, um “vestido de idéias” que encobre interesses ou desejos. Ao aceitar definir-se na linguagem de seu adversário, o liberal moderno assume o papel que ele lhe impõe: confessa-se porta-voz dos interesses dos ricos. Que a confissão seja falsa não a torna menos eficaz. Transferida do confronto objetivo das doutrinas para o terreno da concorrência de interesses, a luta parece opor agora o explorado

O que é desinformação Olavo de Carvalho

O que é desinformação Olavo de Carvalho O Globo, 17 de Março de 2001 Se o público brasileiro não adquirir rapidamente os conhecimentos básicos que o habilitem a reconhecer operações de desinformação pelo menos elementares, toda a nossa imprensa, toda a nossa classe política e até oficiais das Forças Armadas podem se transformar, a curtíssimo prazo, em inermes e tolos agentes desinformadores a serviço da revolução comunista na América Latina . A maior parte das nossas classes letradas não sabe sequer o que é desinformação. Imagina que é apenas informação falsa para fins gerais de propaganda. Ignora por completo que se trata de ações perfeitamente calculadas em vista de um fim, e que em noventa por cento dos casos esse fim não é influenciar as multidões, mas atingir alvos muito determinados – governantes, grandes empresários, comandos militares – para induzi-los a decisões estratégicas prejudiciais a seus próprios interesses e aos de seu país. A desinformação-propaganda lida apenas co

A face oculta do mundialismo verde Pascal Bernardin

A face oculta do mundialismo verde Pascal Bernardin http://www.euro92.org/edi/biblio/bernardin2.htm Tradução de Joel Nunes dos Santos e Roberto Mallet Os visitantes deste site já conhecem o nome de Pascal Bernardin, tanto pela alusão que a ele fiz no meu artigo “Ideário do absurdo” quando pelos comentários de Charles Lagrave no link O império ecológico e o totalitarismo planetário. Agora encontrei esta conferência dele na página do Instituto Euro 92 (onde há dezenas de outras leituras importantíssimas), e não pude deixar de transcrevê-la aqui com algumas notas minhas, malgrado minha falta de tempo para traduzi-la. Se algum visitante puder fazer a tradução e enviá-la a olavo@olavodecarvalho.org, terá prestado um esplêndido serviço a todos. – O. de C. Nota do Instituto Euro 92 Desde o fim do comunismo, o socialismo bate em retirada ao conceder mais espaço aos mecanismos que deixam uma maior margem de liberdade aos comportamentos individuais. Contudo, a ameaça não desapareceu. Embora

Regra de três Olavo de Carvalho

Regra de três Olavo de Carvalho Jornal da Tarde, 15 de Março de 2001 Quando os megacapitalistas, a burocracia planetária e a mídia internacional, após apoiar com verbas e publicidade a organização do Fórum Social Mundial, aceitam alegremente algumas das conclusões do encontro e passam a declarar que, de fato, como já dizia o doutíssimo Olívio Dutra, a globalização não foi igualmente boa para todos, a conclusão que se deve tirar disso é, para mim, a mais óbvia possível. O circo esquerdista de Porto Alegre foi apenas um útil contraponto dialético de detalhe, programado pelos próprios engenheiros do mundialismo para se encaixar na sua estratégia geral, a qual não exclui nem mesmo, no vasto painel de um mundo cada vez mais capitalista, a possibilidade de umas experiências socialistas, aqui e ali, em países que sejam idiotas o bastante para desejá-las e irrelevantes o suficiente para que seu suicídio não prejudique em grande coisa o universo em torno: tal parece ser o caso, precisamente,

Imperdível Olavo de Carvalho - *Essa Aula Vocês Precisam Ver*

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Decadência e submissão Olavo de Carvalho

Decadência e submissão Olavo de Carvalho Diário do Comércio, 23 de dezembro de 2015 Não lembro quem disse, mas, no fim das contas, um romance nada mais é que uma vida, a biografia de um personagem imaginário. Não necessariamente uma biografia completa, do berço ao túmulo, mas um apanhado dos episódios essenciais que marcam a figura de um destino individual de tal modo a fazer dele um símbolo, um modelo aproximativo de muitos destinos possíveis. Em Soumission, de Michel Houellebecq (Paris, Flammarion, 2015), romance de sucesso mundial já traduzido no Brasil, a vida do personagem corre paralela à do seu país natal, num roteiro de decadência inelutável que desemboca na submissão quase simultânea de ambos ao islamismo. O paralelo é realçado pelos nomes: François-France. “Submissão”, em vez de “conversão”, é a palavra correta. François e a França não se convertem ao islamismo: caem dentro dele como corpos fatigados que desabam na cama. A história transcorre no ano de 2022, numa eleiçã

Entrevista com Karl Marx MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA

Entrevista com Karl Marx MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA 13 de março de 2001 Finalmente ele aceitou meu convite para uma entrevista. Eu mal podia acreditar. Estaria frente a frente com o homem que teve o mérito de desvendar aspectos novos da sociedade, apesar da inexatidão científica de suas profecias ou da dose de utopia e de messianismo contidos em sua obra. Mas seja lá como for, o monumental pensamento de Karl Marx havia povoado minha juventude com sonhos revolucionários de um romantismo inigualável, e não há dúvida que, ao explicar as mudanças através do conflito entre classes, ele muito contribuiu para a compreensão sociológica dos processos sociais. Assim sendo, meu coração batia de ansiedade enquanto me dirigia para o lugar do encontro. Ele determinara que o local seria num dos mais belos shoppings centers de São Paulo, o Higienópolis, verdadeiro templo do consumo desvairado. Como desobedecer-lhe? Para completar tamanha excentricidade, exigira ser entrevistado enquanto tomássemo

Sutilezas da fala brasileira Olavo de Carvalho

Sutilezas da fala brasileira Olavo de Carvalho Época, 3 de Março de 2001 Graças a elas, a luta pela soberania torna-se guerra contra um inexistente liberalismo No Brasil, os nomes de doutrinas e regimes políticos não designam as coisas que lhes correspondem na ordem das idéias e dos fatos. Designam pessoas e os sentimentos que a gente tem por elas. Os termos “liberalismo”, “neoliberalismo” e “globalização”, por exemplo, são sinônimos. Empregam-se, indiferentemente, para dizer: “Maldito FHC”. Mas, como os sentimentos que os usuários dessas expressões têm pelo maldito FHC são substancialmente os mesmos que têm pela direita em geral, as três palavras passam a significar também fascismo, nazismo e ditaduras militares latino-americanas, sem prejuízo de que possam ser usadas ainda para designar as tradições dos Founding Fathers americanos, a ideologia do Concílio de Trento e, last but not least, o Lalau e o Luiz Estevão. Não pretendo absolutamente modificar essa norma lingüística solidam

Sacerdócio do Anticristo Olavo de Carvalho

Sacerdócio do Anticristo Olavo de Carvalho Jornal da Tarde, 1o de fevereiro de 2001 Cuba é o único país do Ocidente onde o cidadão pode ser preso por mandar batizar um filho. Quando um ex-sacerdote diz ver nesse país “o reino de Deus na Terra”, está claro que ele não se despiu apenas da batina, nem da fé católica, mas dos últimos vestígios de moral cristã, mesmo laicizada, que ainda pudessem restar no seu coração de apóstata. Isso não quer dizer que seja um ateu. O ateísmo é uma rejeição da fé, não uma inversão dela. A inversão coloca no topo o que estava embaixo, chamando o inferno de céu, odiando o que Deus ama e amando o que Deus abomina. O Anticristo não é um não-Cristo, uma supressão do Cristo: é um Cristo às avessas, que ilude as multidões porque corresponde ao Cristo ponto por ponto, apenas de cabeça para baixo. Por isso o ex-sacerdote não se torna ateu. De certo modo, continua sacerdote. Sem isso, não poderia oficiar o rito diante do crucifixo invertido. A inversão não troc

Garras invisíveis Olavo de Carvalho

Garras invisíveis Olavo de Carvalho Diário do Comércio, 07 de agosto de 2015 Andei lendo, nos últimos dias, Till We Have Faces, a majestosa obra-prima em que C. S. Lewis toma de Apuleio o mito de Eros e Psique e o reconta à sua maneira. A narrativa é escrita na primeira pessoa pela princesa e depois rainha Orual, a irmã mais velha e mais feia da bela Psique, e assume a forma de um tremendo libelo contra os deuses, acusados de, sob a proteção da invisibilidade e da distância inacessível, fazer da vida humana um jogo arbitrário e cruel. Justa e valente ao ponto de bater-se pessoalmente em duelo vitorioso contra o rei de um país inimigo, e educada, ademais, nos princípios da filosofia grega, Orual busca em tudo uma razão de ser, e não encontra. Sua revolta contra o destino chega ao auge quando os deuses lhe roubam a irmãzinha querida, a única alegria da sua triste vida, para fazer dela a esposa de um ser misterioso – um monstro, talvez – cujo rosto é proibido contemplar. Qua